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🇨🇳 RESENHA | Reborn (2025)

 Nota: 💖 | Episódios: 23 | Estrelando: Zhang Jing Yi e Zhou Yi Ran

"Em 2007, uma jovem de 16 anos e sua família, atormentadas pelos rumores sobre a misteriosa morte de sua irmã, são obrigadas a deixar a pequena cidade natal e se mudar para a capital provincial em busca de um recomeço.

Para ajudar sua família a recuperar um senso de normalidade, ela (com o apoio de um colega de classe) decide investigar a morte de sua irmã. Conforme reúne pistas, vai descobrindo uma grande injustiça que sua irmã sofreu. Abalada, ela passa a lutar por justiça, mesmo que isso signifique destruir a fachada de “família perfeita” que seus parentes e sua família tentam preservar."


Renascido é uma obra de arte em forma de drama com uma história sensível, dolorosa e importante sobre crescimento, saúde mental, sexualidade, amor e família



Reborn (Renascido, em PT-BR) é uma história impecável sobre crescimento e amadurecimento, construída de forma sensível e poderosa dentro de um contexto de famílias desestruturadas, saúde mental, sexualidade, fofocas que se transformam em bullying e pressão social.

Eu até tinha uma noção do que esperava, mas nada me preparou para o impacto que esse drama teria. Ele começa com um tom mais pesado e pessimista, mas faz uma virada brilhante ao acompanhar as mudanças internas dos personagens, culminando em um final esperançoso que representa perfeitamente o propósito da narrativa.

E o mais curioso: mesmo sendo realista, pé no chão, Reborn também tem aquela “magia dos dramas”, especialmente no desenvolvimento do casal. O roteiro sabe exatamente como equilibrar peso e leveza, dor e doçura, realismo e uma certa fantasia. É o tipo de equilíbrio que poucos dramas conseguem entregar.


A produção é outro ponto alto: fotografia belíssima, direção muito competente e atuações extremamente naturais. O elenco transmite com clareza as emoções e conflitos de cada personagem, criando uma sensação tão orgânica que é fácil acreditar que estamos observando vidas reais, não ficção.

O roteiro é repleto de metáforas, mas a mais frequente é a dos pássaros (sejam presos ou livres) funcionam como uma representação visual da trajetória dos personagens (principalmente da Qing Yu e do Ming Sheng) e os caminhos que precisam percorrer para viverem suas vidas. 

Liberdade, aliás, é outro dos temas centrais de Reborn: libertar-se de ambientes familiares opressores, de expectativas sufocantes, de traumas e de dores que parecem impossíveis de superar. O cdrama reflete sobre o que significa tornar-se adulto e finalmente poder escolher quem se quer ser e como viver e quais são os custos emocionais dessa autonomia.



O impacto de abordar um plot com HIV/AIDS


Se já não estivesse sendo impecável o suficiente, Reborn se torna ainda mais importante para mim por abordar também HIV/AIDS, e em como essa doença afeta a vida da pessoa portadora e daqueles ao seu redor, com responsabilidade, cuidado e informação, algo raríssimo na dramaland.

O episódio 19, por exemplo, é uma obra-prima: sensível, doloroso e necessário. A fita da terapia da Bei Yu é o clímax emocional do drama. E o final do episódio, abordando abertamente HIV/AIDS, sua prevenção e apoio, sela Reborn como um marco.

As informações e o plot sobre HIV/AIDS citados no cdrama reforçam o quanto o tema é importante de ser falado nas mídias para ajudar a educar mais sobre este tema que ainda hoje possui muita desinformação. Reborn trata essa questão sem sensacionalismo, mas com empatia, respeito e conscientização.

Segundo o site Médicos Sem Fronteiras, “De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas em 2021, aproximadamente 650 mil pessoas morreram de causas relacionadas ao HIV, e 1,5 milhão adquiriram o vírus. Isso equivale a mais de 4 mil novos casos todos os dias. No final de 2021, estimava-se que cerca de 38,4 milhões de pessoas viviam com o HIV no mundo. Entre elas, 1,7 milhão são crianças com menos de 15 anos de idade.”

Um breve resumo sobre o que é HIV/AIDS: “A síndrome da imunodeficiência adquirida — mais conhecida pela sigla em inglês AIDS — é uma condição que resulta da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Esses agentes patológicos atacam as células responsáveis pela defesa natural do nosso corpo —, impedindo sua atuação e comprometendo todo o sistema imunológico (de defesa) do indivíduo. Por conta disso, algumas pessoas que convivem com o HIV podem ficar mais suscetíveis a infecções por outros microrganismos [...]. Isso pode levar ao agravamento do quadro de saúde por outras doenças [...] Mesmo uma gripe simples já pode representar um grave risco. “ — (cr: Einstein)

 



HIV e AIDS são condições diferentes. Cr: Ministério da Saúde



Saúde mental, terapia e tabu


Outro ponto tratado com muito cuidado é a saúde mental. O cdrama mostra terapia e acompanhamento psicológico como algo fundamental não apenas para jovens, mas também para adultos, especialmente em lugares em que esse tipo de conversa ainda encontra resistência.

O cdrama faz uma campanha pelo cuidado psicológico emocional, mostrando o quanto o apoio médico e familiar é essencial para quebrar padrões tóxicos e sobreviver/lidar com traumas profundos. E a melhor parte é mostrar como isso é importante e fundamental, que não deve ser visto como algo errado ou ruim.



A Honra, Familia, hipocrisia e o peso do patriarcado


Outro ponto fortíssimo do cdrama é a abordagem sobre honra e orgulho familiar, especialmente em comunidades tradicionais ou cidades pequenas no interior da China.

As situações absurdas que a família da Qing Yu precisa enfrentar por causa da morte de Bei Yu causam indignação e tristeza. O roteiro expõe com precisão hipocrisias, preconceitos, machismo e misoginia enraizados naquele contexto.

Ver que a família preferiu renegar e abandonar a própria filha (que foi vítima) para “não manchar” a honra dos parentes é devastadora e indignante. 

O fato de Bei Yu ter sido enterrada longe do mausoléu familiar, sem lápide, simboliza essa crueldade, sendo um retrato cruel da posição da mulher naquele ambiente. Até mesmo a esposa de um dos tios, legalmente parte da família, também foi excluída do local de descanso dos outros parentes (os ancestrais da família), apesar de ter ganhado uma lápide.

Esses pontos me fizeram refletir sobre como a mulher, dentro dessa estrutura, nunca é realmente parte da família: ao nascer, não é desejada; ao casar, passa a pertencer a uma família que muitas vezes não a acolhe; e na morte, continua sendo apartada. Uma reflexão dura, mas necessária.



O feminino e a cura


A sexualidade feminina e o controle sobre o corpo das mulheres são temas recorrentes na trajetória da Bei Yu e é reforçado direto durante a história. A forma como sua aparência, sua forma de vestir e maquiar e até sua personalidade foram julgadas e controladas ecoam diretamente no modo como a mãe trata a Qing Yu.

A repressão da mãe sobre ela, tentando controlar sua feminilidade, suas roupas, até suas relações, é fruto de medo, dor e tentativa desesperada de impedir que ela sofra o mesmo que a irmã sofreu. Esse arco dela é muito bem escrito.

Por conta disso, a cena das duas no shopping, escolhendo maquiagem, é lindíssima. O simples ato de comprar um batom vira um rito de passagem, cura e reconciliação não apenas entre mãe e filha, mas também delas com seu lado feminino. 

Pode ser um momento simples para alguns, mas o significado daquele batom para as duas, foi poderoso. Ver a mãe, que antes reprimia tanto, incentivando que a filha expresse seu lado feminino foi muito comovente para mim.



Elenco Brilhante, Atuações impecáveis


Falando um pouco sobre as atuações do elenco principal: todos os personagens são muito bons, mas vou destacar apenas alguns que mais chamaram minha atenção para não deixar essa resenha ainda maior. Mas saiba que todos estão incríveis.

No começo, achei a protagonista Qiao Qing Yu (interpretada pela Zhang Jing Yi) um pouco irritante e até imatura, muito por conta de sua personalidade forte. Mas adorei o desenvolvimento dela ao longo da trama: fez total sentido ela começar desse jeito para que possamos acompanhar seu belíssimo crescimento até se tornar uma jovem adulta forte, segura e consciente de si. 

Confesso que, no início, fiquei com receio de ela não ter esse desenvolvimento e felizmente, tive uma grata surpresa. Zhang Jing Yi está soberba no papel e entrega de maneira crível uma personagem de 17 anos vivendo tudo aquilo com maestria.


Já o Ming Sheng (interpretado pelo Zhou Yi Ran) também tem sua jornada de crescimento, mas possui uma personalidade mais “estável” que a da Qing Yu. Ele é o clássico protagonista herói: gentil, altruísta, ainda que esteja na fase rebelde da adolescência. É a âncora, o porto seguro que acompanha e dá suporte silencioso à Qing Yu nos seus momentos mais turbulentos. 

Uma ótima representação do “farol sob as águas agitadas” (inclusive, outra metáfora forte do cdrama). Mesmo sendo impulsivo, é um pouco mais maduro e, por isso, mais “seguro” que ela. A definição perfeita para ele é essa: um porto seguro. É aquele cara que, mesmo se estiver caindo canivete do céu, estará lá para você.

Zhou Yi Ran é um ator incrível, entrega uma atuação sutil, dramática e cheia de nuances. Este é meu segundo drama mais sério com ele (o primeiro foi Twelve Letters) e virei fã. Espero ver mais trabalhos dele nessa pegada mais dramática, realista e madura. Ele arrasa muito.


A atuação da Liu Dan como a mãe da Qing Yu é monstruosa. No início, ela é apresentada como rígida, controladora e até cruel, mas ao longo da história vamos vendo sua desconstrução: entendemos seus traumas, seus medos, seus arrependimentos e todo o caminho emocional que a levou a agir e ser como é. 

Chegar ao fim do cdrama e testemunhar a transformação e a cura dessa personagem junto da família e com ajuda médica é emocionante. Ela é uma mulher comum, impotente, mas que, com força e amor, tenta salvar sua família despedaçada e sua filha após perder outra de maneira cruel. É uma mãe tateando no escuro.



A perfeição de um romance slow burn bem escrito


Embora o foco do cdrama não seja o romance, Reborn entrega um slow burn excelente: um romance construído com uma doçura impressionante. E o plus: o boy se apaixona primeiro. É lindo ver essa relação nascendo da amizade e crescendo, aos poucos, para algo maior. Essa descoberta é muito bem desenvolvida.

Uma cena que representa perfeitamente o início da relação deles é a da piscina: ela se afogando (metafórica e literalmente) em seus sentimentos e confusões, e ele mergulha de cabeça nessas águas para ajudá-la. Ele vem para resgatá-la física e emocionalmente nos momentos que ela precisa de ajuda.


Tivemos também um plot de infância, algo que raramente funciona comigo, mas aqui foi construído de forma perfeita.

O final é impecável, o cdrama tem o cuidado de ir fechando todas as pontas com calma. Há até um episódio inteiro dedicado apenas ao desfecho do casal que sim, é um final perfeito, fechado, deixando claro que essa também é uma emblemática história de amor romântico. Foi lindo.

Achei muito curioso como o cdrama deixa claro que o casal é destinado: dá para sentir na trama e em várias situações (como o sino, a colocação deles no ranking de notas, a conexão deles com a arte por exemplo, a arvore deles) que eles são almas gêmeas predestinadas, que juntos tudo dá certo e separados desmoronam. 

Isso me lembrou a sensação que tive assistindo Twelve Letters, embora ali a relação seja mais de parceria de vida do que propriamente romântica.



Momento surto (com spoiler)


Aqui vai um momento surto com spoiler, porque é um ponto que considerei relevante pela emoção que me causou: 

eu jurava que não ia rolar beijo, e já estava até resignada, apesar que mesmo sem beijos durante o cdrama, o romance já estava entregando tudo e eu estava bem satisfeita. Mas aí eles nos deram um beijo lindo para fechar com chave de ouro. Era a cereja que faltava no bolo. 

Achei incrível que Reborn entregou um romance simples, mas poderoso, com momentos e clima romântico muito melhores do que muitos dramas lotados de beijos. 

Até porque beijo não define o romance; quem define é o envolvimento, a história do casal. O beijo só coroa a trama. E neste aqui, foi BABILÔNICO. Gol de final de copa manas, me pegou totalmente de surpresa. Foi lindo.


✦𓆩⟡𓆪✦



Todo mundo deveria assistir Reborn. É um cdrama-terapia que se tornou um dos meus favoritos e entrou no meu hall de dramas marcantes. Ele traz reflexões poderosas sobre:

  • depressão e saúde mental;
  • fofocas que viram bullying e podem destroem vidas;
  • como é crescer e estar em meio a famílias desestruturadas;
  • tradição, machismo e o papel da mulher;
  • amadurecimento e descoberta de si;
  • outras mais.

Reborn mostra bem a dinâmica de uma família tradicional do interior chinês: a hierarquia dos mais velhos, a obsessão pela honra e o melhor para a família. 

Há muita pressão familiar e muito peso emocional distribuído injustamente. Também aborda sutilmente sobre o papel do homem/pai (principalmente representado no pai na Qing Yu e também no pai do Ming Sheng, mas o texto tá muito longo para falar sobre). 

O cdrama também fala sobre como as gerações moldam as seguintes, sobre como crescer em uma família desestruturada afeta cada pessoa e em como que amadurecer faz a gente entender e fazer coisas que quando crianças não compreendemos e não conseguimos fazer.


Outro tema é o tempo certo das coisas. Apressar, evitar ou tentar corrigir o passado pode gerar sofrimento. Os personagens estão sempre entre correr para chegar a um futuro melhor ou querer voltar ao passado para reviver bons tempos ou corrigir algo e isso os torna mais palpáveis, bem humanos. Ainda de quebra, entregou uma linda história de amor, não apenas romântico, mas também familiar.

É um cdrama muito denso, cheio de camadas, que dá para tirar muitas reflexões mesmo. É uma história de temas complexos com personagens igualmente complexos e bem construídos.

A história não tem um grande vilão e se tiver, seria a própria sociedade e os medos dos personagens que os levam a erros. Até mesmo situações que poderiam virar clichês, como o bullying contra a Qing Yu ou a Mumu apaixonada pelo Ming Sheng, são tratadas com humanidade e mostrando que elas são gente comum e no fim, a amizade falou mais alto.


Terminei Reborn com um quentinho no coração. Foi lindo, apesar de angustiante, acompanhar a jornada da família Qiao, o romance impecável da Qing Yu e do Ming Sheng, o crescimento dos jovens da turma e, finalmente, a justiça para Bei Yu. Deixa uma importante mensagem poderosa que, mesmo nas situações mais difíceis que vivemos, podemos renascer como uma fenix de nossas cinzas e alcançar o límpido céu azul infinito de possibilidades.

Eu teria muito mais para dizer, mas o texto já está enorme e novamente, este é um cdrama que rende inúmeras reflexões. Recomendo demais, é realmente uma obra-prima.

Vou deixar aqui abaixo alguns alguns links para quem quiser se informar mais sobre HIV/AIDS. Se você conhece alguém vivendo/está nesta condição, saiba que existe rede de apoio e que hoje é totalmente possível ter uma vida longa e saudável fazendo tratamento de graça no SUS. 

E vale lembrar também que aqui no Brasil existe a Lei nº 14.289/2022, que garante sigilo absoluto sobre a condição sorológica de qualquer pessoa, justamente para evitar constrangimentos e qualquer tipo de preconceito/atitude .

No mais, é isso: a arte existe para nos fazer questionar, refletir e repensar, não apenas nos entreter. 



LINKS:

Médicos sem fronteirasSobre HIV/AIDS

Ministério da Saúde: O que é HIV/AIDS e sua Prevenção





📍 Onde assistir: WeTV  | iQiyi | Wei Fansub

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